segunda-feira, 27 de junho de 2011

Autismo Infantil

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as cousa e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas)
(Fernando Pessoa)
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HISTÓRICO
Em 1943, Kanner estudou e descreveu a condição de 11 crianças consideradas que exibiam uma incomum incapacidade de se relacionarem com outras pessoas e com os objetos, também apresentavam desordens graves no desenvolvimento da linguagem. A maioria delas não falava e, quando falavam, eram comuns a ecolalia, inversão pronominal e o concretismo. O comportamento delas era salientado por atos repetitivos e estereotipados; não suportavam mudanças de ambiente e preferiam o contexto inanimado. O termo autismo se referia à características de isolamento e auto-concentração dessas crianças, mas também sugeria alguma associação com a esquizofrenia.

No final da década de 70 Rutter descreveu o Transtorno Autista como sendo uma síndrome caracterizada pela precocidade de início e, principalmente, pelas perturbações das relações afetivas com o meio. Dizia que o autista possuía uma incapacidade inata para estabelecer qualquer relação afetiva, bem como para responder aos estímulos do meio. Daí em diante, vários pesquisadores foram revelando uma distinção cada vez mais evidente entre o autismo e a esquizofrenia.

Na década de 50 os autores norte-americanos, por mero pudor da palavra psicose, denominavam essas crianças como crianças atípicas ou possuidoras de um desenvolvimento atípico ou excepcional. A partir da década de 60 as psicoses infantis foram divididas em dois tipos, as psicoses da primeira infância e as psicoses da segunda infância. Dentre as psicoses da primeira infância foi colocado o Autismo Infantil Precoce. Portanto, foi entendido como um transtorno primário, diferente das outras formas de transtornos infantil secundários à lesões cerebrais ou retardamento mental.

Na Europa, notadamente na França, o conceito de Esquizofrenia Infantil foi substituído pelo conceito de Psicose Infantil, bem onde se enquadra o Autismo. Portanto, também para os franceses, o Autismo Infantil é uma psicose. Mais precisamente, o termo psicose infantil precoce se aplica às psicoses que se iniciam na primeira infância, enquanto a Esquizofrenia Infantil, propriamente dita, ficou reservada aos quadros com início mais tardios, porém, que surgem depois da criança Ter passado por um desenvolvimento relativamente normal.

INCIDÊNCIA
O autismo acomete crianças do sexo masculino em uma proporcão de 5:1 em comparação com crianças do sexo feminino. A incidência do distúrbio é bastante variado e depende de critérios diagnósticos e investigativos de diferentes pesquisadores, variando dentro de uma faixa de 5 a 15 casos em cada 10.000 indivíduos.

SINTOMAS
É fundamental a observação de que pacientes autistas apresentam bastante precocemente, déficits cognitivos que limitam sua interação com o meio. Também é universalmente reconhecida a grande dificuldade que os autistas têm em relação à expressão das emoções. Faria parte dessa anormalidade específica uma incapacidade de reconhecer a emoção no rosto dos outros, uma falha constitucional envolvendo os afetos, uma ausência de coordenação sensório- afetivo e déficits afetivos comprometendo as habilidades cognitivas e de linguagem. Dessa maneira, o quadro sintomático de pacientes autistas é marcado por uma incapacidade de constituir contato afetivo de maneira comum.

DIAGNÓSTICO
Segundo o DSM.IV, os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, onde se inclui o Autismo Infantil, se caracterizam por prejuízo severo e invasivo em diversas áreas do desenvolvimento, tais como: nas habilidades da interação social, nas habilidades de comunicação, nos comportamentos, nos interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem essas condições representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo. Esta seção do DSM.IV inclui o Transtorno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno de Asperger. De maneira mais ou menos comum, esses Transtornos se manifestam nos primeiros anos de vida e, freqüentemente, estão associados com algum grau de Retardo Mental. Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são observados, por vezes, juntamente com um grupo de várias outras condições médicas gerais, como por exemplo, com outras anormalidades cromossômicas, com infecções congênitas e com anormalidades estruturais do sistema nervoso central.

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA TRANSTORNO AUTISTA
A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2) e (3), com pelo menos dois de (1), um de (2) e um de (3):

(1) prejuízo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes aspectos:
(a) prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais tais como contato visual direto, expressão fácil, postura corporais e gestos para regular a interação social.
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao nível do desenvolvimento
(c) falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (por ex., não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse) falta de reciprocidade social ou emocional

(2) prejuízos qualitativos da comunicação, manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhando por uma tentativa de compensar através de modos a alternativos de comunicação tais como gestos ou mímica)
(b) em indivíduos com fala adequada, acentuado prejuízo na capacidade de iniciar ou desenvolver uma conversação
(c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática, falta de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos apropriados ao nível do desenvolvimento

(3) padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses, e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse, anormais em intensidade ou foco
(b) adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais
(c) maneiras motores estereotipados e repetitivos (por ex., agitar ou torcer mãos ou dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo)
(d) preocupação persistente com partes de objetos

B. Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade; (l) interação social, (2) linguagem para fins de comunicação social, ou (3) jogos imaginativos ou símbolos.

C. A perturbação não é melhor explicada por Transtorno de Rett ou Transtorno Desintegrativo da Infância.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), através de sua Classificação Internacional das Doenças, 10ª revisão (CID.10), refere-se ao Autismo Infantil (ou síndrome de Kanner) como uma Síndrome existente desde o nascimento ou que começa quase sempre durante os trinta primeiros meses, onde as respostas aos estímulos auditivos e às vezes aos estímulos visuais são anormais, havendo, habitualmente, graves dificuldades de compreensão da linguagem falada. A fala é atrasada e, quando desenvolve, caracteriza-se por ecolalia, inversão de pronomes, imaturidade da estrutura gramatical e incapacidade de empregar termos abstratos.

Geralmente há uma alteração do uso social da linguagem verbal e gestual. Os problemas de relação com os outros são os mais graves antes dos 05 anos de idade e comportam principalmente um defeito de fixação do olhar, das ligações sociais e da atividade de brincar.

Portanto, sobre o Autismo Infantil a CID.10 diz tratar-se de "um transtorno invasivo de desenvolvimento definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou comprometido que se manifesta antes da idade de 3 anos e pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. Sublinha que o transtorno ocorre em garotos três ou quatro vezes mais freqüentemente que em meninas.
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meu olhar azul como o céu É calmo como a água ao sol. É assim, azul e calmo, Porque não interroga nem se espanta ... Se eu interrogasse e me espantasse Não nasciam flores novas nos prados Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... (Mesmo se nascessem flores novas no prado E se o sol mudasse para mais belo, Eu sentiria menos flores no prado E achava mais feio o sol ... Porque tudo é como é e assim é que é, E eu aceito, e nem agradeço, Para não parecer que penso nisso...)
(Fernando Pessoa)
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Por Pedro Shiozawa

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Figura asomada a la ventana - DALI


Obra: Figura asomada a la ventana (1925)
Autor: Salvador Dali (1904-1989)
Você sabia?
A mulher representada na foto é na verdade Ana Maria, irmã do pintor. A janela corresponde àquela de uma casa de veraneio da família na Baía dos Cadaqués.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Projeto AmarGen - o gen do amor

O PROJETO AMARGEN é uma possibilidade de abordagem na área de saúde mental e uma resposta à realidade vivida pelos profissionais e usuários de saúde mental do CAPS de São Bernardo do Campo, um local de condições precárias e um inchaço de demanda não atendida: a falta de amor, processo vivido em muitas instituições psiquiátricas.

Este projeto parte da premissa de que existe um artista no interior de cada um de nós, pois a expressão artística é inerente ao humano. Acreditamos também que de alguma forma todos estamos doentes neste planeta e que a busca da cura também nos é inerente. Padecemos por viver no mundo da separação (mente-corpo, espírito-matéria, masculino-feminino) e nos curamos na medida em que re-conectamos estes opostos. O sentimento de amor é um poderoso “remédio” como elemento de ligação. Segundo o português lusitano arcaico, a ARTE é o Amor Refletido no Tempo e no Espaço, e o Amor significa A – sabedoria – e MOR – maior.

É através da arte e de técnicas corporais que buscamos proporcionar uma vivência transformadora aos usuários dos serviços de saúde mental, tendo como objetivo:

1) Viabilizar a inclusão de recursos artísticos, como o palhaço, a dança e o teatro;
2) Viabilizar a produção de espetáculos artísticos;
3) Viabilizar a inclusão de abordagens corporais, como a Yoga e a massagem ayurvédica;
4) Oferecer uma perspectiva profissional através do ofício do artista;
5) Gerar renda capacitando os usuários para se tornarem agentes comunitários na atuação em populações com patologias semelhantes às por eles apresentadas (como a dependência química);
6) Incluir a perspectiva do sagrado.

Até o momento, o fator avaliado no projeto foi a adesão dos usuários do CAPS ao tratamento. O psiquiatra Flávio Falcone fez um estudo num corte de 4 meses (julho-outubro/2009) comparando 2 tipos de trabalho. Os usuários escolhem de quais grupos participar: psicoterapia+medicação ou grupo de teatro+psicoterapia+medicação.

Grupo Psicoterapia+Medicação
Incrições: 242 pacientes
Permanecem em tratamento: 15 pacientes
Adesão: 6,66%

Grupo Teatro+Psicoterapia+Medicação
Incrições: 51 pacientes
Permanecem em tratamento: 23 pacientes
Adesão: 45%

Ambos os grupos foram coordenados pelo mesmo terapeuta, o fator empatia passa a ser o mesmo nos dois e, portanto, o resultado confere maior credibilidade ao trabalho desenvolvido.

Para sua efetiva realização e continuidade, o Projeto busca parcerias públicas, organizações não governamentais, fundos internacionais, empresas privadas.










Por Dr. Flávio Falcone
Psiquiatra | Bailarino | Palhaço


A Negra - TARSILA


Obra: A Negra (1923)
Autor: Tarsila do Amaral(1886-1973)
Você sabia?
Esta tela foi pintada por Tarsila em Paris, enquanto tomava aulas com Fernand Léger. A tela o impressionou tanto que ele a mostrou para todos os seus alunos, dizendo que se tratava de um trabalho excepcional. Em A Negra temos elementos cubistas no fundo da tela e ela também é considerada antecessora da Antropofagia na pintura de Tarsila. Essa negra de seios grandes, fez parte da infância de Tarsila, pois seu pai era um grande fazendeiro, e as negras, geralmente filhas de escravos, eram as amas-secas, espécies de babás que cuidavam das crianças.

sábado, 11 de junho de 2011

Autismo no Cinema

O filme Amargo Pesadelo estava sendo rodado no interior dos Estados Unidos. O diretor fez a locação de um posto de gasolina nos confins do mundo, onde aconteceria uma cena entre vários atores contracenando com o proprietário do posto onde ele também morava com sua mulher e filho. Este último autista e nunca saía do terreno da casa.

A equipe parou no posto de gasolina para abastecer e aconteceu a cena mais marcante que o diretor teve a felicidade de encaixar no filme.

Num dos cortes para refazer a cena do abastecimento, um dos atores que sendo músico sempre andava acompanhado do seu instrumento de cordas aproveitando o intervalo da gravação e já tendo percebido a presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto.

Como houve uma 'resposta musical" por parte do garoto, o diretor captou a importância da cena e mandou filmar. O restante vocês verão no vídeo.

Atentem para alguns detalhes:
- O garoto é verdadeiramente um autista;
- ele não estava nos planos do filme;
- A alegria do pai curtindo o duelo dos banjos... dançando
- A felicidade da mãe captada numa janela da casa;
- A reação autêntica de um autista quando o ator músico quer cumprimentá-lo.

Vale a pena o duelo, a beleza do momento e, mais que tudo, a alegria do garoto. A sua expressão. No início está distante, mas, à medida que toca o seu banjo, ele cresce com a música e vai se deixando levar por ela, até transformar a sua expressão num sorriso contagiante, transmitindo a todos a sua alegria.


A alegria de um autista, que é resgatada por alguns momentos, graças a um violão forasteiro. O garoto brilha, cresce e exibe o sorriso preso nas dobras da sua deficiência, que a magia da música traz à superfície.

Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada "por acaso" no filme "Amargo Pesadelo" (Ano: 1972).


Seleção da Equipe Comentada

quarta-feira, 8 de junho de 2011

TRANSFORMAÇÃO NO PADRÃO FAMILIAR


Com o evento da Globalização o ser humano tem lentamente se afastado das atividades lúdicas de lazer e práticas como: cozinhar, tecer, bordar, construir e reformar coisas em casa. Perdemos pouco a pouco esta capacidade de praticar as atividades que nos aquietam. Tornamo-nos seres humanos com enormes cabeças e braços exauridos pelo uso do computador. De forma resumida e direcionada, as informações saltam da tela na medida exata em que buscamos. Somente uma elite planetária, mantém o saudável hábito de ler livros. Até que ponto conseguimos trabalhar essas informações dentro de nós? Pois a reflexão que podemos fazer diante de um livro é completamente diferente da tela de um computador.

Hoje, a percepção corporal se resume a dietas, caminhadas, corridas e academias. E quando os resultados são pequenos, o ser humano tem a incrível ferramenta da cirurgia estética, culminando com a deformação física ou a perda da própria vida, em muitos casos.

No dia a dia, cumprimos o nosso papel, porém interagimos cada vez menos com o calor da intimidade pessoal. O que temos de verdadeiramente “nosso” para compartilhar?

A COMENTADA CURSOS disponibiliza um espaço teórico/prático, reunindo pessoas que buscam agregar novos valores, re-significar as questões improdutivas da vida profissional / pessoal, e superá-las.

Este WORKSHOP tem como objetivo organizar a matéria prima que está inconsciente no TESOURO DA FAMÍLIA! Propõe um inovador enfoque nas relações humanas, pois cada grupo familiar tem um propósito, uma missão. Existe um resgate de valores que drenam inconscientemente através das gerações como, por exemplo, a manifestação de problemas crônicos ou atributos hereditários. A ciência identifica isso através da genética, que reconhece a atuação das fragilidades e tendências orgânicas a serem desencadeadas mediante os gatilhos sócio/emocionais.

Mas, podemos ir além disso... Venha descobrir como usufruir de seus Dons Familiares e como superar os “Desafios Trans geracionais” com a facilitadora Lilian Nogueira.

Contato através do site:

Por Lilian Nogueira
Pouso Alegre, 30 de maio de 2011.




Workshop:
Transformação no Padrão Familiar

Para inscrever-se clique aqui.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lançamento do Livro: João Bolão

Livro: João Bolão
Autor: Ricardo Filho
Local: Livraria Cultura da Paulista
Data: 08 de junho de 2011
Horário: a partir das 18h30