Depois de algum tempo sem escrever
sou embalado pela lembrança de uma mariposa como esta a pousar na luminária,
que a mim, me são duas:
Há alguns anos um amigo querido, dado àquilo que outrora considerei exotérico por não me atrever ao esotérico, me remeteu ao símbolo da mariposa: o flutuar entre o ser e o já não - estar, este que para ele era a travessia.
Carreguei por tanto aquela imagem, por vezes me lembrando, por vezes deixando-me esquecer.
Passaram-se os anos e, durante a faculdade retomei com freqüência estrofes inusitadas de poesias lidas ao acaso, umas mais constantemente que outras, em situações diferentes que fossem: temos sido cúmplices camaradas, amigos antigos, confidentes de viagens.
A mariposa esteve a plainar para no momento seguinte voar para longe e depois retornar.
Na rotina árdua as exigências passaram a ser outras e o navegante acreditou e perdeu e sofreu e ganhou e lutou e mudou e ousou e voltou a ousar...
Sempre no caos da improbabilidade do dia a voltar a si mesmo, ao cerne do que começou a andar, à rosa única do planeta, àquilo que se é e se perde em nós.
A clínica passou a fazer-se rotina, mas afinal o que é a clínica para este que há tão pouco se apresentou?
Não acredito que possa se distanciar muito da fantasia feita desejo: o cuidar, o sentir cuidar. Mas as dores passadas e as por passar distanciaram o transeunte primordial do inocente e verdadeiro sentido: o navegante foi encerando-se em si mesmo de modo a se tornar, sem sabê-lo, em um torpe espantalho.
O sentir cuidar se transformou no não desconstruir; a verdade do toque tem sido substituída pela probabilidade do número; o olhar, pelo registrar; o estar pelo vir-a-ser.
Aos poucos os corvos assustados pelo objeto de palha, voltam ao campo. O eterno poder ser do espantalho torna-se o nunca se transformar, e então, o medo da ave esvai-se com a coragem do homem de palha: o navegante está à deriva para não mais voltar.
A mariposa pousada na luminária passa a ser apenas mariposa pousada na luminária: silêncio.
Pedro Shiozawa
sou embalado pela lembrança de uma mariposa como esta a pousar na luminária,
que a mim, me são duas:
Há alguns anos um amigo querido, dado àquilo que outrora considerei exotérico por não me atrever ao esotérico, me remeteu ao símbolo da mariposa: o flutuar entre o ser e o já não - estar, este que para ele era a travessia.
Carreguei por tanto aquela imagem, por vezes me lembrando, por vezes deixando-me esquecer.
Passaram-se os anos e, durante a faculdade retomei com freqüência estrofes inusitadas de poesias lidas ao acaso, umas mais constantemente que outras, em situações diferentes que fossem: temos sido cúmplices camaradas, amigos antigos, confidentes de viagens.
A mariposa esteve a plainar para no momento seguinte voar para longe e depois retornar.
Na rotina árdua as exigências passaram a ser outras e o navegante acreditou e perdeu e sofreu e ganhou e lutou e mudou e ousou e voltou a ousar...
Sempre no caos da improbabilidade do dia a voltar a si mesmo, ao cerne do que começou a andar, à rosa única do planeta, àquilo que se é e se perde em nós.
A clínica passou a fazer-se rotina, mas afinal o que é a clínica para este que há tão pouco se apresentou?
Não acredito que possa se distanciar muito da fantasia feita desejo: o cuidar, o sentir cuidar. Mas as dores passadas e as por passar distanciaram o transeunte primordial do inocente e verdadeiro sentido: o navegante foi encerando-se em si mesmo de modo a se tornar, sem sabê-lo, em um torpe espantalho.
O sentir cuidar se transformou no não desconstruir; a verdade do toque tem sido substituída pela probabilidade do número; o olhar, pelo registrar; o estar pelo vir-a-ser.
Aos poucos os corvos assustados pelo objeto de palha, voltam ao campo. O eterno poder ser do espantalho torna-se o nunca se transformar, e então, o medo da ave esvai-se com a coragem do homem de palha: o navegante está à deriva para não mais voltar.
A mariposa pousada na luminária passa a ser apenas mariposa pousada na luminária: silêncio.
Pedro Shiozawa
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