sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Considerações finais sobre o estudo da Esquizofrenia e Religiosidade

POR PEDRO SHIOZAWA
A religiosidade tem-se demonstrado como fator intimamente relacionado ao enfrentamento da esquizofrenia pelos pacientes. Sua abordagem por parte da equipe médica é relevante para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas e melhor reconhecimento dos aspectos individuais da doença.
O impacto da religiosidade entre pacientes esquizofrênicos tem sido campo fértil para estudos principalmente descritivos do tipo corte transversal, de modo que apesar de hipóteses relevantes presentes em suas conclusões, o real entendimento da correlação entre religiosidade e doença mental ainda não está detalhadamente estabelecido.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Religiosidade e a Evolução da Doença

POR PEDRO SHIOZAWA
Considerando-se a recuperação do paciente portador de esquizofrenia, a espiritualidade desenvolve um papel-chave à medida que pode funcionar como fonte de busca por esperança e significado para as dificuldades impostas pela doença (Corin, 1998 ; Fallot, 1998 ; Tepper et al., 2001 ; Kelly et al., 2005).

A religiosidade tem sido relacionada à proteção contra comorbidades freqüentemente presentes entre pacientes portadores de esquizofrenia tais quais o abuso de substâncias (Mohr et al., 2006 ; Kendler et al., 2003) e o comportamento suicida (Dervic et al., 2006 ; Booth et al., 1998 ; Jarbin et al., 2004). A presença de delírios religiosos, no entanto, tem sido associada a uma evolução clínica desfavorável (Mohr, 2004).

Estudo realizado na universidade de Geneva demonstrou que para 90% dos pacientes seguidos, a religiosidade constituiu elemento facilitador para o enfrentamento da doença, garantindo menor abuso de substâncias, menor incidência de comportamento suicida e maior aderência ao tratamento (Mohr et al., 2006). A maior aderência ao tratamento por parte de pacientes que referiram a religiosidade como fator relevante no enfrentamento da doença foi amplamente estudado por um grupo de pesquisadores suíços (Mohr et al., 2006; Mohr et al., 2004; Borras et al., 2007).

Em revisão qualitativa de literatura recente realizada pela universidade de Yale, o autor correlaciona a presença de religiosidade entre pacientes portadores de esquizofrenia com menores taxas de re-hospitalização, destacando os aspectos protetores deste tipo de comportamento (Sells et al., 2004). Outros estudos demonstraram a mesma tendência (Koenig, 2007).

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Religiosidade, Esquizofrenia e os Delírios Religiosos

POR PEDRO SHIOZAWA
Um ponto chave no estudo da esquizofrenia tem sido a presença de delírios.

A interrelação entre delírios religiosos e religiosidade tem sido objeto de estudo na literatura, bem como suas variações de acordo com aspectos socioculturais, ainda que sua real etiopatogenia não está elucidada (Dalgalarrondo, 2007).

É fundamental destacar que não se podem delinear margens nítidas entre as crenças normais de indivíduos saudáveis e as crenças fantásticas de pacientes psicóticos, de modo que os delírios, especificamente aqueles de conteúdo religioso, devem ser analisados às luzes do contexto sociocultural no qual se insere o paciente (Koening, 2007 ; Pierre, 2001).

Em pesquisa conduzida na universidade de Manchester, postulou-se que tanto o comportamento religioso quanto a presença de delírios de conteúdo religioso podem representar maneiras encontradas pelo paciente para lidar com eventos negativos de sua vida e que o aumento da religiosidade entre pacientes esquizofrênicos pode ser entendido como conseqüência dos delírios religiosos e não como sua causa (Siddle et al., 2002).

Alguns estudos de neuroimagem tem se ocupado da melhor elucidação das bases orgânicas para a presença de delírios em pacientes esquizofrênicos, apontando para uma maior ativação do hemisfério cerebral direito em pacientes portadores de delírios crônicos, bem como a presença de hiperatividade do lobo temporal esquerdo e hipoatividade do lobo occipital esquerdo. (Pizzagalli et al., 2000 ; Puri et al., 2001).

sábado, 21 de agosto de 2010

Esquizofrenia e Religiosidade

POR PEDRO SHIOZAWA
As doenças psiquiátricas de maneira geral se enquadram no cenário das doenças crônicas, de modo que a religiosidade também deve ser objeto de atenção da equipe médica no manejo do paciente psiquiátrico, como os portadores de esquizofrenia.

Diferentes estudos apontam para a valorização da religiosidade entre pacientes religiosos. Tomamos como exemplo estudo recente conduzido pela Universidade de Geneva, no qual se observou que dois terços dos pacientes portadores de esquizofrenia em acompanhamento referem a religiosidade como tendo papel fundamental em suas vidas (Mohr, 2004). Outro estudo realizado na Austrália verificou que 82% dos pacientes psiquiátricos julgam necessário a abordagem acerca de sua religiosidade por seus médicos, sendo que 67% destes assumiam como essencial o papel da religiosidade no enfrentamento da doença (D´Souza, 2002).

A participação da religiosidade na vida do individuo, no entanto, não necessariamente engloba sua inserção em atividades religiosas coletivas, o que salienta a dificuldade de relacionamento e integração social freqüentemente experimentada por estes pacientes (Huguelet et al., 2006 ; Huguelet et al., 2007).

Apesar da relevância da religiosidade entre os pacientes, estudos têm demonstrado a pouca atenção que esta temática tem recebido por parte da equipe médica no manejo do paciente psiquiátrico, como conseqüência tanto de baixa importância atribuída ao tema, quanto de falta de orientação educacional em relação à espiritualidade na formação médica, tendência a atribuir componentes da espiritualidade à dimensão da psicopatologia e diferenças entre o conhecimento médico e religioso (Shafranski, 1996 ; Neeleman, 1993 ; Crossley, 1995 ; Lukoff, 1995 ; Mohr, 2004).

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Implicação Clínica da Religiosidade e Espiritualidade

POR PEDRO SHIOZAWA
A presença de doença crônica determina alterações no senso de identidade e requer estratégias individuais de enfrentamento desta condição. Neste contexto, a espiritualidade e a religiosidade podem ser compreendidas como ferramentas utilizadas pelo paciente portador de doença crônica pra lidar com as condições impostas por sua doença (Greenstreet, 2006 ; Narayanasamy, 2002).

Não há definição precisa do significado de religiosidade e espiritualidade, no entanto, pode-se caracterizar a religiosidade como uma forma de expressão regrada da espiritualidade individual, que por sua vez traduz-se como um conceito mais amplo e abstrato, inerente ao ser humano e que, por isso, adquire semântica particular e de difícil reprodução (Cohen, 2000).

No meio médico, diferentes publicações tem sido feitas predominantemente na última décadas acerca da correlação entre religiosidade, espiritualidade, qualidade de vida, prevenção e evolução de doenças. Os resultados apontam para um papel fundamental da religiosidade na melhoria da saúde mental e física, com evoluções clínicas favoráveis. (Sloan, 2002 ; McClain, 2003 ; McIllmurray, 2003 ; Büssing, 2007).

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Esquizofrenia

POR PEDRO SHIOZAWA
A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial, com pico de incidência entre 10 a 25 anos para o sexo masculino e entre 25 a 35 anos para o sexo feminino. A etiologia da esquizofrenia ainda não foi completamente elucidada, tendo participação tanto de fatores genéticos como o aumento de níveis cerebrais de dopamina, hipoatividade de receptores NMDA e do sistema Glutaminérgico; quanto ambientais como uma possível exposição intrauterina a agentes virais. Achados de neuroimagem como dilatação ventricular e sinais de hipofunção do lobo frontal apontam ainda para a presença de substratos estruturais determinantes na patogênese da esquizofrenia (Maguire, 2002).

Este transtorno mental é caracterizado, de acordo com o DSM-IV, pela presença de dois ou mais dos seguintes sintomas: ilusões, alucinações, delírios, desorganização da fala, comportamento desorganizado ou catatônico e sintomas negativos como embotamento afetivo, alogia e retraimento social. (Ilustração abaixo)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Chapeleiro

POR PEDRO SHIOZAWA
Enfim, o Chapeleiro.
O homem de chapéu que tanto me lembra... me lembra quem? Talvez me lembre deste eu que seríamos sem sê-lo, do poder vir a ser na prática diária de uma terapêutica torpe, apaixonadamente torpe, arraigada em seus próprios sentimentos, anseios e medos, engessada em seus conceitos: a técnica válida, sem dúvida, mas acorrentada a si mesma por nossos egos de cristal. Vejo o Chapeleiro como vejo o ideal Terapeuta, os xamãs de há pouco atrás, os guias dos rituais de passagem, os detentores do cajado que auxilia a travessia do rio, os rostos escondidos em barbas brancas ou olhares misteriosos a anunciar a possibilidade de uma luz a clarear nossos passos.

O Chapeleiro há de ser aquele que nos mostra onde está a espada necessária para matar o dragão, qual o encantamento correto para acabar com as maldições, qual a estrada de tijolos mais segura, aquele a nos testar antes da viagem, o Barqueiro a nos conduzir, aquele que conosco segue por adiante já ter ido e de lá poder voltar. Mas quem tem sido o Chapeleiro hoje? Por qual Rainha terá sido corrompido, por qual estará apaixonado? Teremos cometido o mesmo erro do rei Minos? E o Chapeleiro de hoje não pode, como nunca pode separ-se de sua esfera política, de sua necessidade em, sob o manto que usa, abdicar de si mesmo. Não há outro modo de caminhar junto, de com-viver em uma estrutura terapêutica sem que haja sacrifício, sem que o Chapeleiro se deixe aprisionar para que a Alice possa fugir e fazer seus os dias futuros e a batalha do porvir.

Os perigos da jornada (e me recordo da Rainha de Copas mandando que decepassem o Chapeleiro e este diz “mas eu já perdi a cabeça faz tempo”) hão de ser amenos àquele que por ela já passou, as intempéries do caminho serão nas mãos calejadas, mais brandas, mas é necessário precipitar-se, ir junto ao inferno do outro, se assim desejarem. No “florir casual” destes dois que “hão sempre de se tornar estranhos”, em suas certezas e medos compartilhados e por compartilhar, que possam, ambos, um, no outro, se encontrar.

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Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez,
nas águas.
Estás nu na areia,
no vento...
Dorme,
meu filho.

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domingo, 8 de agosto de 2010

As Rainhas

POR PEDRO SHIOZAWA
As Rainhas me causaram interesse particular, pois se inicialmente houve tendência natural em escolher uma para poder combater mentalmente a outra, tal oposição carecia de argumentos maiores que a tentativa vã de uma mente despreocupada a entreter-se.

Durante todo o filme somos repetidamente divididos: a Rainha de Copas, representante do que viria a ser algo tirânico, é uma grande apaixonada, persegue suas emoções com invejável liberdade. Seu modus operandi fundamenta-se na clássica máximo maquiavélica do terror em contra-ponto ao amor, da fantasia do medo contra àquela mais amena, vale dizer, do colo materno. Sua razão subjugada a seus anseios e desejos, frutos de um profundo medo de reexperimentar os abandonos de há pouco, causaram em mim uma necessidade de acolher e ai estava o duelo interno do bem contra o mal, do bem e do mal a coexistirem como um só.

A Rainha Branca por sua vez, melancolicamente branca, excessivamente branca, mortalmente branca, retrata a esfera da mais pura bondade, do contato com o natural, não excluindo deste convívio a morte, ( os dedos amanteigados, o fascínio pelas poções) enquanto expressão da vida. Sua voz calma e temperamento ameno não afastam o mesmo ardor voraz de sua irmã pela coroa, que ainda que recebida bucolicamente ao final, assim é possibilitado por meio da força. Em ambas as figuras, cada qual caricata a sua maneira, trazem em si a dualidade: são dois a serem um; estão no caminho inverso da heroína que busca desesperadamente ser um, a ser dois.

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O coração,
se pudesse pensar,
pararia.
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O Gato

POR PEDRO SHIOZAWA
O Gato que acompanha os personagens em momentos fatídicos causa certo desconforto: parece apático ao restante dos acontecimentos, imerso em anseios próprios e desconhecidos. Assemelha-se ao acaso do destino a correr indiferente entre os minutos, sem perguntar as horas ou se preocupar com os cabelos brancos que marcam o fim e o começo daqueles que o cercam.
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O artista olhou a tela em branco
E com quatro cores
Criou o infinito

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Recordo-me instantaneamente de outras figuras, reapresentadas no sorriso estranhamente incomodo do gato: a serenidade do auto-sacrifício do Oráculo em Matrix, os traços de Botero, o pensamento de O Wilde, a figura mitológica de Dédalo que, conforme citou J Campbell, haveria de ser um tipo de artista-cientista, algo como um fenômeno tangenciável ao diabólico, desinteressado pelo seu tempo e absolutamente devoto de sua arte segundo a qual haveria de nos ajudar em nosso próprio caminho. Neste ponto, como não lembrar, mais uma vez do poeta:
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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Fernando Pessoa)

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Considerações sobre o "I Encontro Nacional de Produções Literárias e Culturais para Crianças e Jovens"

O evento está sendo uma grande descoberta!!!
Um novo mundo, por mim desconhecido...

Uma grande viagem!!!
Uma viagem ao mundo da LITERATURA INFANTIL...
das histórias, ilustrações, editoras e edições...

das adaptações de histórias clássicas...
em papel, cordel, cinema, teatro...
as adaptações do contador de histórias...

as histórias contextualizadas na História...
as histórias que não são História ou fazem História???
Que mundo fascinante!!!!

O mundo de Alice e de Pinóquio...
A Jornada do Herói... como roteiro arquetípico, visto como roteiro...

Pinóquio e a mentira... a questão da verdade... a questão da ética.
Pinóquio, Alice e Emília de Lobato...
Alice e o coelho...
a quebra...
a descontrução em busca de novos paradigmas???
A infância descortinada???

Estão sendo momentos inesquecíveis !!!...

O coelho a correr pelo jardim

POR PEDRO SHIOZAWA
O coelho da Alice, o mesmo coelho do Matrix, o objeto que na rotina chama-nos a atenção podendo não chamar; o acaso torpe que, por casualidade do destino toma-nos de súbito de modo a podermos mudar drasticamente de direção; o absurdo: o coelho de colete e relógio no bolso que poderia ter passado despercebido, mas não o fez. Este há de ser novo símbolo no que tenho visto antes com intuição do que com meus próprios sentidos.

O coelho no desenrolar dos dias tem sido a crença duvidosa, a certeza errática de que algo mais no estar rotineiro pode haver sem que de fato haja. O protagonista do Matrix pressentiu seu encontro com aqueles que o levariam ao encontro de Morfeu (e meu deus... Morfeu!); Beethoven sem ouvir, ouviu; Einstein viu ao não querer ver; o discípulo iluminado de Buda compreendeu sem que fosse feito mais do que o breve levantar de uma flor ao ar. Todos viram o não visto, sentiram o não-existente, aquilo que ritmicamente pulsa para adiante da sensação e aprofunda-se na imensidão desconhecida da noite infinita em cada um de nós.

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Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

(Fernando Pessoa)

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O coelho é a chave para o portal, o segredo do labirinto, a possibilidade da viagem; é antes reflexo do protagonista, de seu estado de ser capaz de deixar-se levar pela crença de que é possível deixarmos de estar para vir a ser, sempre vir a ser.

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O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para adiante naveguei.

(Fernando Pessoa)

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domingo, 1 de agosto de 2010

III Congresso Internacional de Música, Neurociência, Arte e Terapia

20 a 22 de agosto de 2010 – São Paulo – Brasil
Local: Complexo Educacional FMU – Núcleo Saúde
Avenida Santo Amaro, 1239 - Vila Nova Conceição


Para mais informações acesse: http://www.cimnat.com.br/