domingo, 8 de agosto de 2010

As Rainhas

POR PEDRO SHIOZAWA
As Rainhas me causaram interesse particular, pois se inicialmente houve tendência natural em escolher uma para poder combater mentalmente a outra, tal oposição carecia de argumentos maiores que a tentativa vã de uma mente despreocupada a entreter-se.

Durante todo o filme somos repetidamente divididos: a Rainha de Copas, representante do que viria a ser algo tirânico, é uma grande apaixonada, persegue suas emoções com invejável liberdade. Seu modus operandi fundamenta-se na clássica máximo maquiavélica do terror em contra-ponto ao amor, da fantasia do medo contra àquela mais amena, vale dizer, do colo materno. Sua razão subjugada a seus anseios e desejos, frutos de um profundo medo de reexperimentar os abandonos de há pouco, causaram em mim uma necessidade de acolher e ai estava o duelo interno do bem contra o mal, do bem e do mal a coexistirem como um só.

A Rainha Branca por sua vez, melancolicamente branca, excessivamente branca, mortalmente branca, retrata a esfera da mais pura bondade, do contato com o natural, não excluindo deste convívio a morte, ( os dedos amanteigados, o fascínio pelas poções) enquanto expressão da vida. Sua voz calma e temperamento ameno não afastam o mesmo ardor voraz de sua irmã pela coroa, que ainda que recebida bucolicamente ao final, assim é possibilitado por meio da força. Em ambas as figuras, cada qual caricata a sua maneira, trazem em si a dualidade: são dois a serem um; estão no caminho inverso da heroína que busca desesperadamente ser um, a ser dois.

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O coração,
se pudesse pensar,
pararia.
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