O coelho no desenrolar dos dias tem sido a crença duvidosa, a certeza errática de que algo mais no estar rotineiro pode haver sem que de fato haja. O protagonista do Matrix pressentiu seu encontro com aqueles que o levariam ao encontro de Morfeu (e meu deus... Morfeu!); Beethoven sem ouvir, ouviu; Einstein viu ao não querer ver; o discípulo iluminado de Buda compreendeu sem que fosse feito mais do que o breve levantar de uma flor ao ar. Todos viram o não visto, sentiram o não-existente, aquilo que ritmicamente pulsa para adiante da sensação e aprofunda-se na imensidão desconhecida da noite infinita em cada um de nós.
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Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
(Fernando Pessoa)
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O coelho é a chave para o portal, o segredo do labirinto, a possibilidade da viagem; é antes reflexo do protagonista, de seu estado de ser capaz de deixar-se levar pela crença de que é possível deixarmos de estar para vir a ser, sempre vir a ser.
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O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para adiante naveguei.
(Fernando Pessoa)
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