quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um pouco mais sobre a trajetória da Mariposa

Concordo que a mariposa busca a luz, fica presa e morre. Mas isso só acontece quando ela busca sua liberdade na luz errada, ou seja, na luz artificial. Durante sua vida, ela busca a luz por diversas vezes e, encontrando a luz natural, ela voa livre. Mas, em um dia fatídico, depara-se com o não-natural, e morre. O que é a luz artificial senão uma imitação da luz natural do sol? O que o artificial causa na vida do homem? E dos animais? O conforto do artificial traz o alto preço da morte, muitas vezes. Creio que uma discussão interessante poderia surgir desse tema...

E o que é o espantalho senão um homem artificial, criado para enganar o corvo, assim como a luz engana a mariposa? O espantalho pode, então, ser a encarnação daquilo que o homem cria para seu próprio benefício em detrimento do susto, do medo e da morte do outro, sendo esse outro encarnado aqui pelo animal. Assim como o corvo e a mariposa se deixam enganar pela luz e pelo homem artificial, também nós nos deixamos enganar por 'remédios' e 'soluções' que nossas culturas trazem, como o próprio processo de letramento...

Renata Quirino de Sousa

5 comentários:

  1. Este texto me fez lembrar o teto das grandes catedrais que são pintados de azul com nuvens. Apesar do tom realista, há anjos ali, santos, a trindade e etc.
    Sei que as catedrais foram construídas com exagero em suas dimensões e formas para provocar um sentimento de inferioridade diante daquele pedaço da casa de Deus, a quem devemos temer.
    O lado positivo, a catedral me coloca num ritmo diferente da atmosfera racional das cidades. Me faz entrar em contato com conteúdos que não viriam a tona no caos ordenado das ruas.
    Pode ser que o artificial, antes de ser tóxico, tenha essa missão, nos colocar exemplos de outros parâmetros, proteger temporariamente a plantação para a época de colheita.
    O equilíbrio está em saber a hora de abandoná-lo.

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  2. Karam, muito interessante sua alusão ao teto das catedrais...
    para seguir com a temática controvertida e paradoxal do confronto dos opostos!

    Grandes “duomos”, grandes cúpulas podem nos trazer essa sensação de opressão...
    mas também,
    podem contribuir para nos elevar a um estado contemplativo e de transcendência,
    que nos possibilita o distanciando dos ruídos e confusões do dia a dia.

    De quem é essa percepção?
    Senão daquele que observa... daquele que vivencia??
    Somos nós que fazemos essa discriminação.

    O teto das grandes catedrais está lá...
    à espera de que lhe seja atribuída uma significação.
    O trabalho de significar e re-significar é nosso.

    Diferentemente da mariposa ou do corvo, nós temos a oportunidade de poder decidir.
    Temos o livre arbítrio que é um exercício ativo e efetivo de nossa consciência em nós.

    Da mesma forma que o artificial representado no texto pela luz e pelo espantalho
    podem expressar tanto aspectos positivos como negativos...
    depende só de nós o ângulo pelo qual analisamos o que estamos vivenciando.

    Do ponto de vista da mariposa e do corvo (pássaros) a não discriminação torna “o artificial” um elemento prejudicial para eles. O corvo não consegue o alimento e a mariposa encontra a morte.

    Nos, também, podemos nos confundir ao interpretar erroneamente o sentido e o significado do que vivenciamos.
    Muito especial sua participação!
    Agradeço, esperando contar sempre com você.

    Suely Nassif

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  3. Eu que agradeço a você pelos textos. Sim, estarei sempre por aqui.
    Grande abraço

    Karam

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  4. Olá, Karam! Obrigada por seu comentário!

    Gosto do seu texto porque ele chama a atenção para o outro lado da moeda - o do artificial que tem a missão de criar um ambiente protegido onde possam surgir sensações que, não fosse esse ambiente, poderiam não surgir. Isso leva a um outro questionamento: o que é o real e o que é o artificial? Não estaríamos sempre transitando pelos dois, sem a consciência de que somos nós mesmos que criamos nossa realidade por meio da leitura que fazemos do que chega aos nossos sentidos? Gosto da mariposa e do corvo porque eles estão mais perto do nosso lado mais intuitivo e menos racional, do nosso lado que sente, como você sentiu na catedral, que não se importa em distinguir o que é real, artificial ou uma combinação dos dois... Mas nós podemos fazer esse trânsito com mais propriedade do que a mariposa e o corvo, porque nossa consciência nos permite enxergar os perigos, distinguir as luzes e antever, antes das escolhas, as consequências delas...

    Espero que possamos ainda falar sobre esses e outros assuntos que, a meu ver, são tão instigantes e fascinantes.

    Grande abraço,
    Renata Quirino Sousa

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  5. Incrivel esse texto. PARABÉNS Sueli pela postagem.
    Como gosto de arquitetura, ciência e psicologia, está tudo relacionado nesse texto.

    Recomendo o livro IDÉIAS DE CONFORTO.

    João Márcio

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